11 de jan. de 2011

Inauguração do SESC Belenzinho


04/12/2010 – SESC Belenzinho

Bom dia.

Por onde passarmos, seja de forma breve, seja para fincarmos nossos pés e estabelecer nossas vidas, um lugar nunca será somente um lugar.

O ser humano tem o poder de transformar muita coisa a seu redor. E essa transformação não se limita a somente destruir um espaço, ou melhorá-lo, ou ainda deixá-lo materialmente intacto.
Esta transformação se refere principalmente a um elemento que acompanha a todos nós: a História.

Não uma história oficial, de governos e economias, impérios e democracias. Mas uma história íntima, própria: a que contamos e vivemos esperando o ônibus, na fila do pão, na espera de uma consulta médica.

Por isso um lugar nunca é um espaço vazio se por ele alguém passou ou ali se estabeleceu. Por mais inóspito que possa parecer, é somente na aparência que reside seu abandono. Pois nele sempre habitará uma infinidade de sentimentos esquecidos, de histórias vividas ou de felicidades incontidas.

A subjetividade de um lugar é o que faz dele uma parte viva de nossos corpos: é a nossa memória.

O Belenzinho – este diminutivo carinhoso – nunca será somente um lugar. Digo isso pela imensa riqueza que as casas, ruas, comércios e indústrias carregam em suas vigas, telhados e lembranças.

Por sobre qualquer vazio que se possa instalar, o Belenzinho terá em seu solo as marcas indeléveis das mãos que o constituíram como bairro: um local para se morar, trabalhar, se divertir e, mais que tudo, um local de encontro.

A vida de hoje parece nos afastar, cada vez mais, dos encontros. As ruas soam como simples espaços de passagem, espaços para os carros e seus duelos particulares, espaços para os sacos de lixo jogados nas calçadas.

Com isso, vamos nos confinando também cada vez mais. Nossos encontros se tornaram "virtuais". Computadores, internet, celulares, inúmeras nomenclaturas que estão à nossa disposição, à disposição de nossa solidão.

No mundo performativo de hoje, ou seja, onde o que importa é a performance que escolhemos para cada momento e lugar propícios, o personagem que vestimos escolhe sempre uma tela para se mostrar.

Será que nos tornamos, mesmo sem querer, atores? Mas quem será que, nestes atos a que invariavelmente nos dispomos, escreve nossos roteiros?

Por isso, é preciso estarmos atentos e acessíveis aos contatos puramente humanos. Estes que hoje, aqui no SESC Belenzinho, nos prestamos em carne, sangue, ossos, salivas e peles.
Podermos nos olhar sem que, no meio desta admiração, esteja a dura e vítrea tela de um mundo pronto em plasma; mas sim a inconstante, fascinante e maravilhosa tela de um mundo sempre a ser construído, vivo e pulsante.

Digo isso para refletirmos sobre o que queremos para nossas vidas, se um modo de vida dirigido por meios tecnológicos, ou uma vida cujas tecnologias sejam apenas suportes de conhecimento e fruição.

Digo isso, pois esta imensa praça, cujas árvores crescem no tempo certo de nossos promissores desejos, é concreta, é rua de movimento humano, é centro de brincadeiras ilógicas, é chão de passagem e permanência.

Digo isso, pois este centro de culturas, educação, esportes, atividades físicas, saúde e ócio é mais um sujeito de nossos encontros, é objeto de nossas histórias, é verbo de nossas idéias criativas de um mundo desejado, de sonhos inacabados e de felicidades concebíveis.

Há muito por aqui. Há muitos aparelhos e vazios incansáveis, há muita água para as piscinas, e há fios e canos invisíveis ligando as eletricidades e tecnologias.

Há muita gente trabalhando; e há silêncio em muitos cantos. Há segurança e desprendimento; há coxias, palcos, luzes e encantos. Há de tudo um pouco, até espaço para enxergarmos o que nos falta.

Nossos corpos são os agentes de nossas histórias. Não há presente que se sustente sem as sólidas colunas do passado; assim também não haverá futuro sem que a construção das atualidades se solidifique em essência humana.

Pois é nesta célula primordial, na pedra fundamental de nossas almas, que reside a verdadeira história. 3

E o bairro do Belenzinho tem aí, em sua história, uma das mais belas composições citadinas. Um lugar de escolas modernistas, de trabalhadores anarquistas, de campos de futebol de várzea e de misturas magníficas de povos.

Povos estes que migram pelo mundo em busca de um pedaço de terra que, como para todos, é seu próprio sentido de vida.

É isso! A vida nunca deixou de jorrar suas fontes. E suas fontes nunca deixaram de criar mais vida.

Em um antigo terreno de indústria surgiu um espaço de expressão de culturas. E novamente, deste espaço, que foi se consagrando dia a dia como um respiro para a dura lida, surgiu algo novo, repleto de reminiscências antigas.

Novas pinturas, componentes inéditos, novos sabores, novas conquistas, novos declives e o vermelho vivo invadindo com novas maneiras de sentir o mundo.

O SESC Belenzinho, presente no bairro desde 1947 em formatos e endereços distintos, permanece em nossas histórias. Como vimos, há muito de novo, de inédito e de origem.
Porém, há em tanta coisa nova o velho sentimento do encontro, há o reviver os esbarros de ombros, os cumprimentos e olhares diretos; há o exercício da alteridade e, nele, o encontrar-se consigo e com os outros no ancestral e necessário convívio.

Por onde passarmos, haverá pegadas, que confundirão tempos e espaços numa única e permanente textura de vida.

Bem-vindos ao SESC Belenzinho!

Danilo Santos de Miranda
Diretor Regional do SESC São Paulo

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